terça-feira, 22 de março de 2011

sobre plástico e aço,

eu subia pelo segundo bondinho, o morro mais alto estava a minha frente e já a vista da subida era bonita. descendo do bondinho e percebendo minha total falta de equilíbrio dei alguns passos passando a catraca, ainda impressionado como tão pouco conseguia afetar tanto meus ouvidos internos. voltei minha atenção para a questão do para onde ir, percebi um pequeno caminho que se fazia ao lado da estação de embarque dos bondes, logo à direita, como pequenos caminhos escondidos são o meu tipo de caminho, fui. chegando ao seu fim, separado de uma queda considerável por uma grade não muito mais baixa do que meu quadril, observei.
abaixo de mim uma mata fechada e densa cobria todo o morro menor do Pão de Açúcar e de lá corria pelas redondezas, displicentemente jogado ao lado dela, concreto pardo - com um pouco de cuidado se veria naqueles prédios ondas arrebentando num mar verde, ondas de concreto vindas da praia - tão desorganizados aqueles prédios, tão aleatórios, tão errados em seu lugar, e, talvez por isso, tão lindos em sua conjução com o verde. era um verde escuro, tão escuro quanto o verde poderia ser, e, a despeito da física, ele brilhava, brilhava muito, através de seu brilho se fazia presente não só na terra, mas no próprio ar, de tal modo que ele e seus arredores vinham. na mais pura sinestesia eu sentia aquele verde, aquela mata, aquele concreto todo em mim, a visão me tomou o corpo, os pulmões se encheram dela e querendo dizer alguma palavra para se aliviarem ficaram em silêncio pois eu não conhecia a palavra para o que via, as pernas se foram, todo meu tato sentia verde, cheirei verde e concreto. por alguns instantes permaneci possuído por uma visão. um pouco mais de cuidado e meus sentidos puderam ver mais da sutileza que havia me tomado, não era só de verde e concreto que haviam me arrebatado; solitariamente, em meio àquilo tudo, duas árvores se erguiam, quebravam a continuidade com suas copas, uma dourada e a outra lilás, e como se não tivesse mais espaço em mim para mais cor alguma, a visão se retirou. eu continuei mudo, não é fácil falar quando se está apaixonado, mas sorri.

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