sobre modelagem,

Atravessei a rua por pensar que pegaria o ônibus que vinha, quando o olhei, ele estava muito cheio para mim, decidí esperar pelo próximo, não havia pressa. Quando me distanciava da porta do ônibus, comecei a ouvir um choro infantil vindo de minhas costas, uma menina que aparentava não mais de quatro anos chorava copiosamente por ter perdido sua bolinha de assopro, sua bexiga vermelha, a bola era vermelha. A menina estendia o braço para alcançar a bola que estava muito além de seu alcance, mas não do meu. Essa história deveria acabar aqui, a menina receberia a bexiga de minhas mãos e menos uma criança chorando no mundo. Eu fiquei olhando para a menina, para depois olhar para a bola, e novamente para a menina, o onibus se preparava para sair, eu só pensava que não podia fazer nada pois o ônibus sairia logo e de nada adiantaria eu pegar a bola se não poderia devolvê-la a quem mais a queria. Pensei isso por três minutos, três minutos pensando no que eu não poderia fazer, três minutos, que me permitiriam fazer o que devia, pensados. O ônibus saíu. Aí eu pensei na besteira de pensar por três minutos para se esforçar por alguém, percebí que o ponto estava cheio de pessoas e apenas eu olhava para a bexiga vermelha. Desejei por um minuto que a bexiga estourasse, ou melhor, que fosse estourada por um ônibus qualquer, mas ela não foi. Peguei a bexiga e entrei no próximo ônibus, da mesma linha que o anterior, estava agora em uma jornada de esperança para concertar meu erro. Pensei que caso os ônibus se emparelhassem eu poderia lançar a bexiga vermelha através das janelas, pensei no peso a bexiga que não me permitiria fazer longos arremessos. Mesmo que eu só precisasse de um. Por um segundo os ônibus ficaram parelhos, um segundo não era o suficiente. Até o meu ponto de descida fiquei esperando uma segunda oportunidade que não apareceu, pensei num plano B, iria esperá-la, a menina, no meu ponto, com certeza o seu ônibus passaria por alí e talvez ela. Só ônibus passou . Levantei de meu banco, e andei para casa com meu troféu, também possível para quem perde, tinha uma sensação que ainda não havia aprendido nada, traduzida num pensamento bastante correto em sua síntese, Ainda não consigo.