sobre ética em psicologia
A escrita virou uma catarse para mim. Durante a greve estudantil, toda vez que a frente de paralisação fazia/dizia alguma besteira eu escrevia um texto. Funciona bem, coloca-se facilmente o pensamente em ordem, como alguém já falou “objetiva-se o pensamento”, ajuda a verificar seus erros para depois, completando o pensamento daquele mesmo alguém, “subjetivar o pensamento”.
A catarse de hoje será por meu eterno desconforto, o meu querido curso de psicologia; finalmente consegui colocar minha angústia em palavras ordenadas, finalmente a entendi. O custo de entendê-la foi um ano e incontáveis páginas que culminaram em quinze minutos e umas vinte e cinco páginas. Meu problema com o meu curso, para ser mais abrangente, com a Psicologia – foda-se quem pensou “não há uma psicologia, há psicologia”- é por causa do problema ético em que ela me colocou, para poder elaborar esse problema ético eu precisei ler Goffman (chato como só ele) e aquele texto de vinte e cinco páginas o qual eu mencionei. Goffman me deu a estatística chata que poderia ser estendida, com um pouco de boa vontade, a todo Psicologia: o percentual de acerto é de 50%. Eu não gosto de digitar números, os prefiro por extenso, mas será deixado de forma abreviada para marcar melhor na mente. 50%. Sabe qual é a probabilidade de se tirar cara quando se joga uma moeda pra cima? Agora o segundo texto. O maldito texto me fez imaginar a seguinte cena:
“Entra um paciente num consultório, ele procura ajuda por que sua vida vai de mal a pior, tudo se deve a uma doença psicológica que ele adquiriu - a doença é escolha de quem ler.
- Dr. – todo mundo que tem curso superior é doutor – o senhor pode me ajudar?
- Acredito que sim, Sr. X – o nome será mantido em segredo por questões éticas.”
Quem ainda não entendeu, pare de ler aqui se tiver preocupações éticas.
Lembra-se dos 50%? Estão de volta. Sabe, o Dr. não mentiu necessariamente – o personagem é meu, mas eu não posso dizer o que se passa na cabeça dele-, ele pode estar realmente interessado em cuidar daquele homem, ele se esforçará, lerá tudo, relará tudo e mais um pouco. Mas os malditos 50% dizem que não importa o quanto ele seja esforçado ou competente (hehehe, lembrei de um futuro calouro dizendo “estudem para se destacar”), o tratamento será uma moeda jogada para cima. Chato, né? Relaxe, fica pior. Pior por que você não parou de ler quando te foi dada a chance. Você poderia ser como meu personagem esforçado (tal qual como o calouro sugeriu) e continuar a se esforçar e dizer confiante ao seu paciente que você pode ajudá-lo, e dormir como um bebe na mesma noite. Mas você não parou de ler e agora te aconteceu o mesmo que aconteceu a mim, você sabe. E isso faz toda diferença. É por isso que esse curso me angustia, corro contra o tempo para achar um modo de dizer para quem quer que seja que eu posso lhe ser útil sem precisar mentir para isso. Ignorância é uma benção.
A quem interessar possa.
Os próximos posts serão mais intimistas.
.W.S.S
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