quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

sobre paralisia,

Uma vez que eu abri uma exceção para uma pequena ficção, não vou me importar em abrir uma outra.
Um pensamento vem me martelando há algum tempo. É o seguinte: as pessoas reclamam muito que os cidadãos brasileiros são apáticos, não se movimentam, não exigem seus direitos, e todas essas coisas, em suma, que são apáticos. Daí eu pensei: "E não era essa a idéia?". Vejamos. Só há cidadão na relação que se estabelece com o Estado, e qual é a relação que sempre houve entre o estado brasileiro e seus cidadãos? não é aquela em que a participação é entendida como perigo ou é eufemismizada? se pararmos para pensar um pouco, a representatividade do modo como praticamos é uma forma gentil de dizer "senta lá, agora é comigo.". Quais dispositivos legais existem que possibilitem a participação do cidadão na vida política do seu país? É comum que agora alguém bem intencionado responda: "O voto! Quando as pessoas aprenderem a votar, a escolher bem seus representantes..." E se... o voto for o problema? melhor dizendo: e se o voto for um manifestação do problema? Em nossa democracia se é cidadão exatamente durante o momento do voto. Alguém conhece algum outro mecanismo de controle da população sobre o estado? [parte do estado, pois o judiciário está totalmente fora de controle.] Com o advento da urna eletrônica a cidadania se transformou num epifenomeno de 30 segundos. Puff! "Pronto votei!". E depois do voto o que? Depois a questão está fora de suas mãos, você pode twittar, escrever em blogs, fazer passeatas, você pode fazer mil ações, mas nenhuma delas será tão direta quanto o voto. Daí a coisa que vem me martelando: que nosso modo de fazer política implica cidadãos paralisados, tudo que se espera de um cidadão são 30 segundos de consciência, como um doente que dá um lapso em seu coma.
As pessoas desaprenderam a fazer política a despeito do Estado, e o nosso estado é o ópio do povo.

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