terça-feira, 7 de agosto de 2012


sobre aniversários, 
Sabem quando o primeiro DSM foi publicado? É, nem eu. Não é tão recente, contudo; talvez umas quatro décadas. Admirável Mundo Novo, por outro lado, foi publicado há 80 anos. Faz muito tempo somos rondados pelo fantasma do soma. O automóvel é muito velho também, a bicicleta talvez um pouco mais. E talvez eu esteja apenas delirando, mas a velocidade os une hoje; a velocidade une esses vários tempos num agora.
Pedale-se pelas ruas de sua cidade, troque o carro pela bicicleta aí a cidade muda. Um motorista só pode sentir sua cidade, o lugar onde vive e ao qual pertence, como múltiplos pontos ligados por intervalos de tempo. As rodas giram sobre algo que está inacessível ao motorista - exceto na qualidade de sacolejos-; a cidade para o motorista é um mistério que ele não quer e nem pode resolver. Vultos e pontos. O automóvel rasga a cidade não para expô-la, mas para ocultá-la. Motoristas não sabem onde vivem, motoristas pertencem a pontos disjuntos. Motoristas só conhecem o espaço que os circunda através o tempo. O ciclista verte suor no espaço por onde passa, ele põe esforço em cada giro de rodas. Suas rodas não o separam do espaço, elas os unem justamente por de seu giro o ciclista ser condição necessária e o próprio limite do corpo do ciclista não permitir borrões, não permitir pontos. Para o ciclista que trabalhou cada metro que percorreu – e por isso experienciou e experimentou cada centímetro – a cidade é um espaço per si, o tempo é figurante, o plano de fundo para a relação. A cidade é da bicicleta dum jeito que o carro nunca a quis.
Sacaram a metáfora com o soma? Sacaram que o soma é uma metáfora para as drogas farmacológicas que curam transtornos mentais velozmente? Se não sacaram tudo bem, acabei de explicar mesmo...
Seria interessante saber de onde vem esse imperativo de velocidade, mas noutro texto talvez.

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