sobre aniversários,
Sabem
quando o primeiro DSM foi publicado? É, nem eu. Não é tão recente, contudo;
talvez umas quatro décadas. Admirável Mundo Novo, por outro lado, foi publicado
há 80 anos. Faz muito tempo somos rondados pelo fantasma do soma. O automóvel é
muito velho também, a bicicleta talvez um pouco mais. E talvez eu esteja apenas
delirando, mas a velocidade os une hoje; a velocidade une esses vários tempos num
agora.
Pedale-se
pelas ruas de sua cidade, troque o carro pela bicicleta aí a cidade muda. Um
motorista só pode sentir sua cidade, o lugar onde vive e ao qual pertence, como
múltiplos pontos ligados por intervalos de tempo. As rodas giram sobre algo que
está inacessível ao motorista - exceto na qualidade de sacolejos-; a cidade para o motorista é um mistério que ele
não quer e nem pode resolver. Vultos e pontos. O automóvel rasga a cidade não
para expô-la, mas para ocultá-la. Motoristas não sabem onde vivem, motoristas
pertencem a pontos disjuntos. Motoristas só conhecem o espaço que os circunda através
o tempo. O ciclista verte suor no espaço por onde passa, ele põe esforço em cada giro
de rodas. Suas rodas não o separam do espaço, elas os unem justamente por
de seu giro o ciclista ser condição necessária e o próprio limite do corpo do
ciclista não permitir borrões, não permitir pontos. Para o ciclista que
trabalhou cada metro que percorreu – e por isso experienciou e experimentou
cada centímetro – a cidade é um espaço per si, o tempo é figurante, o plano de
fundo para a relação. A cidade é da bicicleta dum jeito que o carro nunca a quis.
Sacaram
a metáfora com o soma? Sacaram que o soma é uma metáfora para as drogas farmacológicas
que curam transtornos mentais velozmente? Se não sacaram tudo bem, acabei de explicar mesmo...
Seria
interessante saber de onde vem esse imperativo de velocidade, mas noutro
texto talvez.
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