terça-feira, 14 de dezembro de 2010

sobre passagens,

funciona assim, eu sentado na frente de minha casa olhando para a rua, até não conseguir mais ver com distinção. a noite deixando o piche muito mais negro, ninguém-me-quer entre as minhas pernas, eu a acariciava, há muito que não tinha tempo para acariciá-la. por um tempo ficamos eu e ela ali, na calçada, ela jogada nas minhas pernas e eu olhando para a rua que se estendia para além do que eu conseguia ver. percebi que os tempos de ver essa rua, de ver essa cidade, talvez de ver esse país, estavam chegando ao fim. vinte anos no mesmo lugar, olhando o lugar mudar tão completamente, mas mesmo assim ser tão familiar, é como se aquela rua fosse eu, e talvez, por mais que não me agrade dizer, bem, essa rua sou eu. o mesmo vale para a cidade. ninguém-me-quer sai das minhas pernas, a saudade dela acabou. alguém, sei lá quem, passa de meu lado, a vizinha diz boa noite, e uma voz dentro de mim pergunta, vai sentir saudade. outra voz responde, de que.

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