quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sobre cracolândia,

Não é sobre o crack. A questão não é o crack. A questão não é o tráfico. Acredito que esses são os pontos que se deve ter em mente quando se começa a discutir sobre essa região no centro de São Paulo.

Não quero dizer que os malefícios do uso do crack não devam ser cuidados, ao contrário, deve-se com muito afinco informar á população sobre o que é essa droga e quais seus possíveis efeitos no corpo. O que não se deve fazer de modo algum é olhar para todo um cenário de degradação social e dizer: “Foi o crack”.

O preconceito em relação ao tema é ainda tão grande, mesmo entre os que se pensam esclarecidos, que para todos a situação é plenamente explicada por essa palavrinha: droga.

- Por que é morador de rua? Droga

- Por que é desempregado? Droga

- Por que não tem contato com a família? Droga

O puritanismo em nossos corações parece nos impedir de duvidar de nossa resposta fácil.

Série de reportagens chamadas “A Vida na Rua” feita para a tevê Record pela jornalista Ana Paula Padrão sobre a questão dos moradores de rua. link:

http://www.youtube.com/watch?v=f8NwTPbBy18

Nessa série o que mais se ouve e vê é o contrário do que clama o senso comum: Perdeu o emprego e então passou a usar drogas. Perdeu a família aí passou a usar drogas. Perdeu a casa, foi morar na rua, aí passou a usar drogas. A droga não aparece como catalisador da desestruturação social. Para essas pessoas as drogas aparecem muito mais como um amortecedor para a situação em que se encontram.

O preconceito é tão ativo que nos impede de realmente nos importar com o drogadito morador de rua. Ninguém lhe pergunta qual sua escolaridade, ninguém lhe pergunta qual foi seu último emprego fixo, ninguém lhe pergunta quem no mundo ainda o ama, ninguém lhe pergunta qual foi a última vez que ele teve um teto duma casa sobre a cabeça, ninguém nem ao menos lhe pergunta qual sua expectativa para o dia de amanhã. Olhamos para ele e com toda boa fé no peito dizemos que o problema é o crack.

Talvez, só talvez, culpemos o crack porque sendo ele o culpado nos livramos um pouco da responsabilidade que é também um tanto nossa.

Um comentário:

Milinha_psi disse...

Oi Waldez, muito boa a abordagem dessa faceta do usuário. Texto feito para refletir. Xeros